quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Escola é um celeiro de cientistas



Utilizar energia renovável para reduzir a conta de luz. Com esse pensamento, os alunos Gabriela Carla de Araújo Barbosa, 16 anos, e Andrews Claudino de Araújo, 17 anos, desenvolveram um projeto que se tornou ‘‘a menina dos olhos’’ da escola: o ferro solar.






Foto: Fábio Cortez/DN



O aparelho tem a função de auxiliar no trabalho doméstico sem utilizar energia elétrica, ou seja, o usuário pode passar roupas aquecendo o ferro com a luz do sol. A idéia surgiu a partir de uma visita ao Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), quando foi apresentado um protótipo do equipamento. Atentos à viabilidade do experimento e à oportunidade de ajudar moradores do bairro de Emaús, onde moram, Gabriela e Andrews resolveram adaptar a idéia e se dedicar ao trabalho. Com um pouco de sucata e muita força de vontade, eles iniciaram a construção da estrutura que serve de base para o ferro solar.

Entre o material utilizado estão pedaços de espelho, ferro e fibra de vidro, além de um ferro de passar convencional. Juntando tudo, surge uma espécie de tripé que serve de apoio à parabólica espelhada, principal agente do processo. Através dela, os raios solares convergem até o ferro gerando a temperatura ideal para o funcionamento do sistema. Em aproximadamente um ano de trabalho, orientado pelo mestrando em Engenharia Mecânica da UFRN, Aroldo Vieira de Melo, Gabriela e Andrews já comprovaram a eficácia do equipamento em testes realizados na própria escola. A primeira experiência aconteceu em maio de 2006, precisamente a partir das 11h59, sob condições de céu limpo com nuvens esparsas. Em apenas dois minutos, a temperatura no ferro solar passou de 27 graus Celsius para 100 graus Celsius.

Se comparado ao aquecimento de um ferro convencional, que passa de 27 graus Celsius para cerca de 80 graus Celsius no mesmo espaço de tempo, o experimento atingiu uma temperatura 178% maior. No quesito resfriamento, as vantagens também são notáveis, com uma média de 3 graus Celsius por minuto. Uma perda de energia praticamente nula se levado em consideração o aquecimento médio de 29 graus Celsius por minuto. Sinal de que o ferro solar funciona de verdade e pode facilitar a vida de pessoas que não têm condições de arcar mensalmente com uma conta de energia elevada.

O reconhecimento pelo esforço desses alunos chega em forma de prêmio. Recentemente, o ferro solar foi um dos projetos selecionados para a Mostratec 2007 - Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia da América do Sul -, realizada em Novo Hamburgo-RS e que este ano chega em sua vigésima segunda edição. Lá, o projeto norte-rio-grandense, desenvolvido por alunos do Ensino Médio, vai concorrer com cerca de 900 trabalhos de todo o Brasil, inclusive com escolas técnicas, onde já existe uma tradição na pesquisa científica. Para o orientador do projeto, a força de vontade e o interesse de estudantes da rede pública pela ciência significa o crescimento de uma cultura que, na maioria das vezes, fica trancada em laboratórios e bibliotecas. ‘‘Esse trabalho significa, hoje, meu objetivo de vida. É uma renovação, deixo uma contribuição para o mundo’’, disse o mestrando Aroldo Vieira de Melo.


KARINE BRITODA
EQUIPE DE O POTI


Fonte: DNonline (http://diariodenatal.dnonline.com.br/site/materia.php?idsec=2&idmat=162571), publicado no dia 2 de setembro de 2007, no Diário de Natal - O Poti

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